quarta-feira, 24 de abril de 2013

O Papel da Literatura Infantil





Ao tratar da questão da leitura e do ensino de literatura, torna-se importante uma discussão em torno da Literatura Infantil, uma vez que privilegiamos a formação de crianças leitoras. O próprio estatuto da Literatura Infantil está vinculado à noção de criança, tal como conhecemos hoje. A partir do século XVIII, com o aparecimento de um novo modelo de sociedade, da configuração da família burguesa, surge a infância propriamente dita, pois as crianças, até então, eram tratadas como ‘adultos em miniatura’ (ZILBERMAN, 1984).
Em virtude de tais mudanças sociais e até mesmo culturais, as escolas passam a ganhar espaço e, em decorrência da necessidade de se ocupar da infância, a instituição torna-se a intermediária entre a criança e a cultura, servindo-se da leitura para educar as crianças (ZILBERMAN, 1984, p. 12-13). A leitura e a formação de um público leitor se expandiram nesta época, assim como a ascensão da pedagogia. Nesse contexto, a literatura infantil aparece ligada à função educativa, de fins pedagógicos, vinculando o seu surgimento à prática da leitura.
Sabe-se que os livros infantis, desde o seu surgimento, estiveram ligados à educação, com fins moralizantes. Só mais tarde, como afirma Ana Maria Machado (1999, p. 33), é que adultos e crianças passaram a compartilhar histórias por amor e os livros que foram escritos para adultos tornam-se infantis por adoção.
A literatura infantil brasileira vem a florescer somente no final do século XIX, muito tempo depois da literatura infantil européia (século XVIII). O país vivia um tempo de modernização, deixava de ser Imperial para torna-se Republicano. Crescia nesse contexto, a sistematização de um esforço para a formação de uma literatura infantil brasileira. Era um ambiente favorável ao contato com os livros, pois à medida que as cidades cresciam, o consumo pela cultura e a preocupação com a escolarização aumentavam (LAJOLO; ZILBERMAN, 1991).
Com a consequente valorização da escola, há uma profunda preocupação com a deficiência do material destinado à leitura para crianças. Muitos intelectuais, professores e jornalistas se unem e começam a produzir obras infantis — projeto de um Brasil moderno. Estimulam o surgimento de livros infantis brasileiros, pois até então, havia se multiplicado apenas as traduções e as adaptações de obras estrangeiras. Além da adaptação dos modelos europeus, o Brasil também se apropriou do projeto educativo e ideológico que via no texto infantil um forte aliado para a formação dos cidadãos (LAJOLO; ZILBERMAN, 1991, p. 32).
Entre 1920-1945, a produção literária para crianças aumenta, não somente pelo número de obras e o volume das edições, mas pelo interesse das editoras pela literatura infantil. Na grande necessidade de escreverem histórias para crianças, vemos a figura inovadora de Monteiro Lobato com sua obra A Menina do Narizinho Arrebitado (1920), publicada em 1921 com o título Narizinho Arrebitado e o subtítulo ‘segundo livro de leitura’ para uso das escolas primárias. Em 1931, acrescida de outras histórias e, com o título de Reinações de Narizinho, a obra torna-se um ícone da literatura infantil de Lobato e, consequentemente, da literatura infantil brasileira — é o início de uma das etapas mais férteis da ficção brasileira (LAJOLO; ZILBERMAN, 1991, p. 47).

A indústria do livro para crianças é firmada nas décadas de 1960, quando uma grande quantidade de livros é publicada e a profissionalização dos escritores é estabelecida. É uma época de grandes conquistas, pelas quais obras mais maduras com consciência política e libertária são produzidas, destacando figuras como: Lygia Bojunga Nunes, Ziraldo, Cecília Meireles, Vinícius de Moraes, Clarice Lispector e outros.
A narrativa infantil contemporânea aderiu à temática urbana e, muitas vezes, fez-se de porta-voz das denúncias da crise social brasileira que se estabelecia. Retratou temas até então não questionados e evitados pela literatura infantil: a separação conjugal, o amadurecimento sexual de meninos e meninas, o preconceito racial, a marginalização de crianças nas cidades, a marginalização dos velhos. Os escritores apresentaram e continuam apresentando um compromisso com a modernidade e um esforço renovador em tentar romper com as amarras da pedagogia escolar (LAJOLO; ZILBERMAN, 1991).
Diante da discussão em torno da literatura infantil, o que se coloca é que, da necessidade de investimentos na educação infantil, o livro literário tornou-se livro de leitura de uso escolar, houve a escolarização da leitura literária. De acordo com Vera Teixeira de Aguiar (2001, p. 243), ‘o pecado original’ da literatura infantil foi ter nascido ligada com a educação e sobre esse assunto surgem muitas propostas que tentam redirecionar o estatuto literário do livro infantil.
Outra questão que se coloca é sobre o papel da literatura infantil, seja a leitura ligada à escola, ou então a leitura por curiosidade, por prazer, a literatura para crianças apresenta a responsabilidade, assim como a literatura não-infantil, de formar leitores. 

Um comentário:

  1. Realmente a literatura infantil tem um papel importantíssimo no percurso da criança. Gostei muito da sua contribuição!

    Abraços

    Andrea Lanças

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