Ao
tratar da questão da leitura e do ensino de literatura, torna-se importante uma
discussão em torno da Literatura Infantil, uma vez que privilegiamos a formação
de crianças leitoras. O próprio estatuto da Literatura Infantil está vinculado
à noção de criança, tal como conhecemos hoje. A partir do século XVIII, com o
aparecimento de um
novo
modelo de sociedade, da configuração da família burguesa, surge a infância propriamente
dita, pois as crianças, até então, eram tratadas como ‘adultos em miniatura’ (ZILBERMAN,
1984).
Em
virtude de tais mudanças sociais e até mesmo culturais, as escolas passam a ganhar
espaço e, em decorrência da necessidade de se ocupar da infância, a instituição
torna-se a intermediária entre a criança e a cultura, servindo-se da leitura
para educar as crianças (ZILBERMAN, 1984, p. 12-13). A leitura e a formação de
um público leitor se expandiram nesta época, assim como a ascensão da
pedagogia. Nesse contexto, a literatura infantil aparece ligada à função
educativa, de fins pedagógicos, vinculando o seu surgimento à prática da
leitura.
Sabe-se
que os livros infantis, desde o seu surgimento, estiveram ligados à educação,
com fins moralizantes. Só mais tarde, como afirma Ana Maria Machado (1999, p.
33), é que adultos e crianças passaram a compartilhar histórias por amor e os
livros que foram escritos para adultos tornam-se infantis por adoção.
A
literatura infantil brasileira vem a florescer somente no final do século XIX, muito
tempo depois da literatura infantil européia (século XVIII). O país vivia um
tempo de modernização, deixava de ser Imperial para torna-se Republicano. Crescia
nesse contexto, a sistematização de um esforço para a formação de uma
literatura infantil brasileira. Era um ambiente favorável ao contato com os
livros, pois à medida que as cidades cresciam, o consumo pela cultura e a
preocupação com a escolarização aumentavam (LAJOLO; ZILBERMAN, 1991).
Com
a consequente valorização da escola, há uma profunda preocupação com a deficiência
do material destinado à leitura para crianças. Muitos intelectuais, professores
e jornalistas se unem e começam a produzir obras infantis — projeto de um
Brasil moderno. Estimulam o surgimento de livros infantis brasileiros, pois até
então, havia se multiplicado apenas as traduções e as adaptações de obras
estrangeiras. Além da adaptação dos modelos europeus, o Brasil também se apropriou
do projeto educativo e ideológico que via no texto infantil um forte aliado
para a formação dos cidadãos (LAJOLO; ZILBERMAN, 1991, p. 32).
Entre
1920-1945, a produção literária para crianças aumenta, não somente pelo número
de obras e o volume das edições, mas pelo interesse das editoras pela
literatura infantil. Na grande necessidade de escreverem histórias para
crianças, vemos a figura inovadora de Monteiro Lobato com sua obra A Menina
do Narizinho Arrebitado (1920), publicada em 1921 com o título Narizinho
Arrebitado e o subtítulo ‘segundo livro de leitura’ para uso das escolas
primárias. Em 1931, acrescida de outras histórias e, com o título de Reinações
de Narizinho, a obra torna-se um ícone da literatura infantil de Lobato e,
consequentemente, da literatura infantil brasileira — é o início de uma das
etapas mais férteis da ficção brasileira (LAJOLO; ZILBERMAN, 1991, p. 47).
A
indústria do livro para crianças é firmada nas décadas de 1960, quando uma grande
quantidade de livros é publicada e a profissionalização dos escritores é estabelecida.
É uma época de grandes conquistas, pelas quais obras mais maduras com consciência
política e libertária são produzidas, destacando figuras como: Lygia Bojunga Nunes,
Ziraldo, Cecília Meireles, Vinícius de Moraes, Clarice Lispector e outros.
A
narrativa infantil contemporânea aderiu à temática urbana e, muitas vezes,
fez-se de porta-voz das denúncias da crise social brasileira que se
estabelecia. Retratou temas até então não questionados e evitados pela
literatura infantil: a separação conjugal, o amadurecimento sexual de meninos e
meninas, o preconceito racial, a marginalização de crianças nas cidades, a
marginalização dos velhos. Os escritores apresentaram e continuam apresentando
um compromisso com a modernidade e um esforço renovador em tentar romper com as
amarras da pedagogia escolar (LAJOLO; ZILBERMAN, 1991).
Diante
da discussão em torno da literatura infantil, o que se coloca é que, da necessidade
de investimentos na educação infantil, o livro literário tornou-se livro de leitura
de uso escolar, houve a escolarização da leitura literária. De acordo com Vera Teixeira
de Aguiar (2001, p. 243), ‘o pecado original’ da literatura infantil foi ter
nascido ligada com a educação e sobre esse assunto surgem muitas propostas que
tentam redirecionar o estatuto literário do livro infantil.
Outra
questão que se coloca é sobre o papel da literatura infantil, seja a leitura ligada
à escola, ou então a leitura por curiosidade, por prazer, a literatura para
crianças apresenta a responsabilidade, assim como a literatura não-infantil, de
formar leitores.
Realmente a literatura infantil tem um papel importantíssimo no percurso da criança. Gostei muito da sua contribuição!
ResponderExcluirAbraços
Andrea Lanças