ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE GÊNEROS DISCURSIVOS
Adriana Mello
Adriana Mello
Na
teoria formulada por Bakthin (2000), a linguagem possui um caráter social e o
enunciado é um produto da interação social. Dessa forma, cada palavra é
definida como produto de trocas sociais. O autor observa que cada esfera de utilização
da língua elabora tipos com relativa estabilidade, que ele denominou “gêneros
do discurso” (ou gêneros discursivos), caracterizados por seus conteúdos e
pelos aspectos linguísticos e textuais que apresentam.
A
teoria bakthiniana propõe a distinção entre gêneros primários (simples), que se
constituem por aqueles da vida cotidiana e mantêm uma relação imediata com as
situações nas quais são produzidos, e gêneros secundários (complexos) que
aparecem nas circunstâncias de uma comunicação – artística, científica,
sócio-política, entre outras – mais complexas e relativamente mais evoluídas.
Esses gêneros secundários (romance, teatro, discurso científico), durante o
processo de sua formação, absorvem e transmutam os gêneros primários de todas
as espécies, que se constituíram em circunstâncias de uma comunicação verbal e
espontânea. Os gêneros primários, neste caso, perdem então sua relação direta
com o real para tornar-se literatura ou teatro.
Para
Bakthin (2000), o gênero vive do presente, mas recorda seu passado, seu começo.
A vida do gênero é marcada pela capacidade de renovar-se em cada etapa do
desenvolvimento da literatura, em cada obra individual. Os gêneros discursivos
criam cadeias que, por se reportarem a um grande tempo, acompanham a variabilidade
de usos da língua numa determinada época.
Maingueneau
(2001) afirma que os gêneros do discurso organizam a nossa fala da mesma maneira
que a organizam as formas gramaticais. O aparecimento do gênero está
intrinsicamente relacionado a determinadas condições sócio-históricas, o que
torna possível a caracterização de uma sociedade pelos gêneros discursivos que
ela torna possível e que a tornam possível. Pode-se dizer, então, que todo
texto – oral ou escrito – pertence a um dado gênero discursivo e que todo
gênero discursivo associa-se a uma organização e pode ser objeto de
aprendizagem. Todo texto organiza-se dentro de um determinado gênero em função
das intenções comunicativas, como parte das condições de produção dos
discursos, as quais geram usos sociais que o determinam. Os gêneros são,
portanto, segundo o autor, determinados historicamente e podem ser
caracterizados por três elementos:
· *conteúdo temático: o que é ou pode tornar-se
dizível por meio do gênero;
· *construção composicional: estrutura particular
pertencente ao gênero;
· *estilo: configurações específicas das unidades
de linguagem derivadas, sobretudo, da posição enunciativa do locutor, conjuntos
particulares de sequências que compõem o texto etc.
Como
observa Braitt (1997, p. 150), os gêneros são decorrência direta das formas
representativas do mundo cotidiano cujo inacabamento permite uma abertura das
possibilidades nas suas formas de representação.
Pelo número
quase ilimitado de gêneros existentes, faz-se necessário que a escola priorize
o ensino de alguns e, de acordo como os PCN (BRASIL, 1998) essa escolha deve
considerar a frequência do gênero na realidade social e sua utilidade para o
aluno.
É importante atentar para o fato de que a diversidade de gêneros selecionados
pela escola deve merecer abordagens diversificadas. Segundo Barbosa (200, p.
91) “a eleição dos gêneros como objeto de ensino-aprendizagem implica numa
mudança de perspectiva, de objetivos, de conteúdos e metodologias”. Isso requer
do professor uma nova postura, que não a de “transmissor de conhecimentos”, mas
de alguém que constrói o conhecimento na interação com seus alunos.
Referências
BARBOSA, J. P. Do professor suposto pelos PCN ao professor
real de língua portuguesa: são os PCN praticáveis? In: ROJO, R (org) A
prática de linguagem em sala de aula: praticando os PCN. São Paulo: EDOC; Campinas:
Mercado de Letras, 2000.
BAKTHIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo:
Martins Fontes, 2000.
BRAITT, B. (Org). Bakthin, dialogismo e construção de
sentido. Campinas: Unicamp, 1997.
BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros
Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1997.
MAINGUENEAU, D. Análise de Textos de Comunicação. São
Paulo: Cortez, 2001.
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