sexta-feira, 26 de abril de 2013


ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE GÊNEROS DISCURSIVOS
                                                                                          
                                                                                                         Adriana Mello

 Na teoria formulada por Bakthin (2000), a linguagem possui um caráter social e o enunciado é um produto da interação social. Dessa forma, cada palavra é definida como produto de trocas sociais. O autor observa que cada esfera de utilização da língua elabora tipos com relativa estabilidade, que ele denominou “gêneros do discurso” (ou gêneros discursivos), caracterizados por seus conteúdos e pelos aspectos linguísticos e textuais que apresentam.

A teoria bakthiniana propõe a distinção entre gêneros primários (simples), que se constituem por aqueles da vida cotidiana e mantêm uma relação imediata com as situações nas quais são produzidos, e gêneros secundários (complexos) que aparecem nas circunstâncias de uma comunicação – artística, científica, sócio-política, entre outras – mais complexas e relativamente mais evoluídas. Esses gêneros secundários (romance, teatro, discurso científico), durante o processo de sua formação, absorvem e transmutam os gêneros primários de todas as espécies, que se constituíram em circunstâncias de uma comunicação verbal e espontânea. Os gêneros primários, neste caso, perdem então sua relação direta com o real para tornar-se literatura ou teatro.

Para Bakthin (2000), o gênero vive do presente, mas recorda seu passado, seu começo. A vida do gênero é marcada pela capacidade de renovar-se em cada etapa do desenvolvimento da literatura, em cada obra individual. Os gêneros discursivos criam cadeias que, por se reportarem a um grande tempo, acompanham a variabilidade de usos da língua numa determinada época.

Maingueneau (2001) afirma que os gêneros do discurso organizam a nossa fala da mesma maneira que a organizam as formas gramaticais. O aparecimento do gênero está intrinsicamente relacionado a determinadas condições sócio-históricas, o que torna possível a caracterização de uma sociedade pelos gêneros discursivos que ela torna possível e que a tornam possível. Pode-se dizer, então, que todo texto – oral ou escrito – pertence a um dado gênero discursivo e que todo gênero discursivo associa-se a uma organização e pode ser objeto de aprendizagem. Todo texto organiza-se dentro de um determinado gênero em função das intenções comunicativas, como parte das condições de produção dos discursos, as quais geram usos sociais que o determinam. Os gêneros são, portanto, segundo o autor, determinados historicamente e podem ser caracterizados por três elementos:
·         *conteúdo temático: o que é ou pode tornar-se dizível por meio do gênero;
·         *construção composicional: estrutura particular pertencente ao gênero;
·       *estilo: configurações específicas das unidades de linguagem derivadas, sobretudo, da posição enunciativa do locutor, conjuntos particulares de sequências que compõem o texto etc.

Como observa Braitt (1997, p. 150), os gêneros são decorrência direta das formas representativas do mundo cotidiano cujo inacabamento permite uma abertura das possibilidades nas suas formas de representação.

Pelo número quase ilimitado de gêneros existentes, faz-se necessário que a escola priorize o ensino de alguns e, de acordo como os PCN (BRASIL, 1998) essa escolha deve considerar a frequência do gênero na realidade social e sua utilidade para o aluno.

É   importante atentar para o fato de que a diversidade de gêneros selecionados pela escola deve merecer abordagens diversificadas. Segundo Barbosa (200, p. 91) “a eleição dos gêneros como objeto de ensino-aprendizagem implica numa mudança de perspectiva, de objetivos, de conteúdos e metodologias”. Isso requer do professor uma nova postura, que não a de “transmissor de conhecimentos”, mas de alguém que constrói o conhecimento na interação com seus alunos.

Referências
BARBOSA, J. P. Do professor suposto pelos PCN ao professor real de língua portuguesa: são os PCN praticáveis? In: ROJO, R (org) A prática de linguagem em sala de aula: praticando os PCN. São Paulo: EDOC; Campinas: Mercado de Letras, 2000.
BAKTHIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
BRAITT, B. (Org). Bakthin, dialogismo e construção de sentido. Campinas: Unicamp, 1997.
BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1997.
MAINGUENEAU, D. Análise de Textos de Comunicação. São Paulo: Cortez, 2001.

Nenhum comentário:

Postar um comentário