quinta-feira, 25 de abril de 2013

Dica de leitura


Competência leitora¹
Autora: Heloisa Amaral

   As práticas de leituras escolares são cruciais para o desenvolvimento da competência leitora dos alunos. Como essa competência é fundamental para o exercício da cidadania, esse assunto tem sido tema de inúmeras pesquisas em todos os países. As diferentes abordagens dessas pesquisas são decorrentes das diferentes formas de compreender a língua, de diferentes modos de compreender a relação ensino/aprendizagem e das muitas interpretações das razões do fracasso de tantos alunos diante da leitura.
  Esta última razão tem sido o motivo de muitas pesquisas sobre leitura em países desenvolvidos, por exemplo, (1). Em alguns desses países observa-se que pessoas que têm muitos anos de escolarização não se tornam leitoras de gêneros textuais provenientes de esferas não escolares de produção de linguagem. Dizendo de outra maneira, esses países têm contatado que trabalhar exclusivamente com leitura de gêneros escolares (como os textos especialmente produzidos ou adaptados para os livros didáticos), não é suficiente para desenvolver competência leitora ampla que permita aos indivíduos lerem com facilidade textos jornalísticos ou outros que têm ampla circulação social. Ao mesmo tempo, muitas dessas pesquisas concluíram que também é de fundamental importância o desenvolvimento de atividades escolares voltadas para competência leitora.
  Em relação às pesquisas que partem de diferentes concepções de língua, podemos encontrar posturas bastante radicais. Aqueles que pensam a língua como código, exclusivamente, podem conduzir suas pesquisas para mostrar resultados ligados apenas com a falta de adequação dos trabalhos escolares como momentos de aquisição da base alfabética. Outros que pensam a língua como texto ou discurso podem assumir posições radicais em relação às práticas de aquisição da base alfabética, deixando-as em ultimo plano. Todos sabemos que posições radicais podem ser muito envolventes, porque parecem mostrar que há um único caminho certo para chegar às finalidades que se almeja atingir.
  Atualmente, a tendência das pesquisas mais avançadas é considerar que as práticas de ensino de leitura e escrita devem contemplar as diferentes características da língua. Essa visão permite uma radiografia mais completa das dificuldades apresentadas pelos alunos que são submetidos a práticas escolares de ensino de leitura mais unilaterais. Um exemplo de abordagem da língua como objeto de ensino complexo, multifacetado, está nas pesquisas de Rojo (2) e Kleiman (3). Para ambas, a competência leitora tem maiores chances de ser desenvolvida quando se consideram os múltiplos aspectos que a língua contém enquanto objeto de ensino. De um modo geral, de acordo com pesquisas dessa mesma vertente teórica, é possível considerar práticas que desenvolvem competência leitora ampla aquelas que consideram os aspectos de código, de sistema e de discurso que a língua contém. Tais abordagens encontram respaldo nas políticas atuais do governo federal (4) e estaduais. Resumidamente, vejamos algumas das competências menores incluídas na competência leitora mais ampla.
 2)  São entre outras, competências que permitem a compreensão de textos, de acordo com os PCNs:
a. Ativação de conhecimentos de mundo (para compreender o que lê, o leitor precisa buscar referências em seu conhecimento de mundo: quando mais amplo ele for, mais o leitor compreenderá o que lê)
b. Antecipação de conteúdos ou propriedades dos textos ( o leitor, neste caso, busca referências em conhecimentos anteriormente reunidos; é o caso de crianças muito pequenas que leem sem decifrar rótulos de produtos, p.ex.)
c. Localização de informações (essa capacidade foi uma das que as crianças avaliadas pelos testes padronizados demonstram possuir).
d. Checagem de hipóteses (o leitor, enquanto lê, levanta e checa hipóteses; por exemplo, ao ler uma manchete de jornal rapidamente, pode entender que está escrito “os presos de peixes subiram”, o que não faz sentido para ele. Retomando a leitura, verifica que sua hipótese estava errada e que a manchete diz “os preços dos peixes subiram”, o que faz sentido para quem lê).
3) Há competências que estão ligadas aos aspectos discursivos da língua e são competências que definem o perfil do leitor critico. Esses aspectos estão diretamente relacionados com a situação de comunicação onde o texto foi produzido e respondem a questões como quem é o autor; que papel social ele exercia no momento que escreveu; que pontos de vista assumiu ao escrever; que veículo ou suporte contem o texto; como e onde esse veículo circulará; que finalidade tem o texto, etc.
a. A leitura crítica supõe um diálogo do leitor com aquilo que lê, valorando o que lê de acordo com seus critérios próprios de valor. Um leitor crítico tem pontos de vista pessoais e pode concordar com o autor que lê ou pode discordar dele, desvalorizando suas propostas.
b. A situação em que o leitor se encontra influencia esse  diálogo com o autor: ler para se divertir, ler para obter uma informação, ler para estudar, ler para atualizar-se.
c. O leitor crítico é capaz de estabelecer relações com outros textos, anteriormente lidos, seja aqueles a que o texto procura responder, seja outros escritos posteriormente e que procuram dar respostas ao texto lido.
  Concluindo, afirmamos que um trabalho bem conduzido com gêneros textuais possibilita essa múltipla abordagem necessária para a formação da competência leitora nos alunos.





















Nota
1.        Este texto foi editado para fins formativos
Referências
1.        Analfabetismo em França, em http://www.apagina.msnet.pt/2005/10/analfabetismo-em-frana.html
2.        ROJO, R.H.R. (2002) A concepção de leitor e produtor de textos nos PCNs: “Ler é melhor do que estudar”. In M.T.A. Freitas & SR Costa (orgs.) Leitura e Escrita na Formação de Professores, PP. 31-52. SP Musa/UFJF/INEP-COMPED.
3.        KLEIMAN, A.B. (2006) Leitura e prática social no desenvolvimento de competências no ensino médio. In C. Bunzen & M. Mendonça (orgs.) Português no Ensino Médio e Formação do Professor, PP. 23-36. SP Parábola Editorial, 2006.
4.        Parâmetros Curriculares Nacionais, in www.mec.gov.br/sef/estrut2/pcn/pdf/livro01.pdf



Nenhum comentário:

Postar um comentário