Fruto do curso para formadores do programa "Melhor Gestão Melhor Ensino" implementado pela SEESP, em abril de 2013, com o objetivo de capacitar professores da rede, visando melhorias na qualidade da educação, esse espaço visa subsidiar o trabalho dos professores de língua portuguesa, aliando aportes teóricos pertinentes a práticas bem-sucedidas, construídas na interação professor -aluno - conhecimento, rumo a uma educação emancipadora e cidadã.
sexta-feira, 26 de abril de 2013
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE GÊNEROS DISCURSIVOS
Adriana Mello
Adriana Mello
Na
teoria formulada por Bakthin (2000), a linguagem possui um caráter social e o
enunciado é um produto da interação social. Dessa forma, cada palavra é
definida como produto de trocas sociais. O autor observa que cada esfera de utilização
da língua elabora tipos com relativa estabilidade, que ele denominou “gêneros
do discurso” (ou gêneros discursivos), caracterizados por seus conteúdos e
pelos aspectos linguísticos e textuais que apresentam.
A
teoria bakthiniana propõe a distinção entre gêneros primários (simples), que se
constituem por aqueles da vida cotidiana e mantêm uma relação imediata com as
situações nas quais são produzidos, e gêneros secundários (complexos) que
aparecem nas circunstâncias de uma comunicação – artística, científica,
sócio-política, entre outras – mais complexas e relativamente mais evoluídas.
Esses gêneros secundários (romance, teatro, discurso científico), durante o
processo de sua formação, absorvem e transmutam os gêneros primários de todas
as espécies, que se constituíram em circunstâncias de uma comunicação verbal e
espontânea. Os gêneros primários, neste caso, perdem então sua relação direta
com o real para tornar-se literatura ou teatro.
Para
Bakthin (2000), o gênero vive do presente, mas recorda seu passado, seu começo.
A vida do gênero é marcada pela capacidade de renovar-se em cada etapa do
desenvolvimento da literatura, em cada obra individual. Os gêneros discursivos
criam cadeias que, por se reportarem a um grande tempo, acompanham a variabilidade
de usos da língua numa determinada época.
Maingueneau
(2001) afirma que os gêneros do discurso organizam a nossa fala da mesma maneira
que a organizam as formas gramaticais. O aparecimento do gênero está
intrinsicamente relacionado a determinadas condições sócio-históricas, o que
torna possível a caracterização de uma sociedade pelos gêneros discursivos que
ela torna possível e que a tornam possível. Pode-se dizer, então, que todo
texto – oral ou escrito – pertence a um dado gênero discursivo e que todo
gênero discursivo associa-se a uma organização e pode ser objeto de
aprendizagem. Todo texto organiza-se dentro de um determinado gênero em função
das intenções comunicativas, como parte das condições de produção dos
discursos, as quais geram usos sociais que o determinam. Os gêneros são,
portanto, segundo o autor, determinados historicamente e podem ser
caracterizados por três elementos:
· *conteúdo temático: o que é ou pode tornar-se
dizível por meio do gênero;
· *construção composicional: estrutura particular
pertencente ao gênero;
· *estilo: configurações específicas das unidades
de linguagem derivadas, sobretudo, da posição enunciativa do locutor, conjuntos
particulares de sequências que compõem o texto etc.
Como
observa Braitt (1997, p. 150), os gêneros são decorrência direta das formas
representativas do mundo cotidiano cujo inacabamento permite uma abertura das
possibilidades nas suas formas de representação.
Pelo número
quase ilimitado de gêneros existentes, faz-se necessário que a escola priorize
o ensino de alguns e, de acordo como os PCN (BRASIL, 1998) essa escolha deve
considerar a frequência do gênero na realidade social e sua utilidade para o
aluno.
É importante atentar para o fato de que a diversidade de gêneros selecionados
pela escola deve merecer abordagens diversificadas. Segundo Barbosa (200, p.
91) “a eleição dos gêneros como objeto de ensino-aprendizagem implica numa
mudança de perspectiva, de objetivos, de conteúdos e metodologias”. Isso requer
do professor uma nova postura, que não a de “transmissor de conhecimentos”, mas
de alguém que constrói o conhecimento na interação com seus alunos.
Referências
BARBOSA, J. P. Do professor suposto pelos PCN ao professor
real de língua portuguesa: são os PCN praticáveis? In: ROJO, R (org) A
prática de linguagem em sala de aula: praticando os PCN. São Paulo: EDOC; Campinas:
Mercado de Letras, 2000.
BAKTHIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo:
Martins Fontes, 2000.
BRAITT, B. (Org). Bakthin, dialogismo e construção de
sentido. Campinas: Unicamp, 1997.
BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros
Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1997.
MAINGUENEAU, D. Análise de Textos de Comunicação. São
Paulo: Cortez, 2001.
quinta-feira, 25 de abril de 2013
Dica de leitura
Autora:
Heloisa Amaral
As
práticas de leituras escolares são cruciais para o desenvolvimento da
competência leitora dos alunos. Como essa competência é fundamental para o
exercício da cidadania, esse assunto tem sido tema de inúmeras pesquisas em
todos os países. As diferentes abordagens dessas pesquisas são decorrentes das
diferentes formas de compreender a língua, de diferentes modos de compreender a
relação ensino/aprendizagem e das muitas interpretações das razões do fracasso
de tantos alunos diante da leitura.
Esta última razão tem sido o
motivo de muitas pesquisas sobre leitura em países desenvolvidos, por exemplo, (1).
Em alguns desses países observa-se que pessoas que têm muitos anos de
escolarização não se tornam leitoras de gêneros textuais provenientes de
esferas não escolares de produção de linguagem. Dizendo de outra maneira, esses
países têm contatado que trabalhar exclusivamente com leitura de gêneros
escolares (como os textos especialmente produzidos ou adaptados para os livros
didáticos), não é suficiente para desenvolver competência leitora ampla que
permita aos indivíduos lerem com facilidade textos jornalísticos ou outros que
têm ampla circulação social. Ao mesmo tempo, muitas dessas pesquisas concluíram
que também é de fundamental importância o desenvolvimento de atividades
escolares voltadas para competência leitora.
Em relação às pesquisas que
partem de diferentes concepções de língua, podemos encontrar posturas bastante
radicais. Aqueles que pensam a língua como código, exclusivamente, podem
conduzir suas pesquisas para mostrar resultados ligados apenas com a falta de
adequação dos trabalhos escolares como momentos de aquisição da base
alfabética. Outros que pensam a língua como texto ou discurso podem assumir
posições radicais em relação às práticas de aquisição da base alfabética,
deixando-as em ultimo plano. Todos sabemos que posições radicais podem ser
muito envolventes, porque parecem mostrar que há um único caminho certo para
chegar às finalidades que se almeja atingir.
Atualmente, a tendência das
pesquisas mais avançadas é considerar que as práticas de ensino de leitura e
escrita devem contemplar as diferentes características da língua. Essa visão
permite uma radiografia mais completa das dificuldades apresentadas pelos
alunos que são submetidos a práticas escolares de ensino de leitura mais
unilaterais. Um exemplo de abordagem da língua como objeto de ensino complexo,
multifacetado, está nas pesquisas de Rojo (2) e Kleiman (3). Para
ambas, a competência leitora tem maiores chances de ser desenvolvida quando se
consideram os múltiplos aspectos que a língua contém enquanto objeto de ensino.
De um modo geral, de acordo com pesquisas dessa mesma vertente teórica, é
possível considerar práticas que desenvolvem competência leitora ampla aquelas
que consideram os aspectos de código, de sistema e de discurso que a língua
contém. Tais abordagens encontram respaldo nas políticas atuais do governo
federal (4) e estaduais. Resumidamente, vejamos algumas das competências
menores incluídas na competência leitora mais ampla.
2) São entre outras, competências
que permitem a compreensão de textos, de acordo com os PCNs:
a. Ativação de conhecimentos de mundo (para compreender o que lê, o
leitor precisa buscar referências em seu conhecimento de mundo: quando mais
amplo ele for, mais o leitor compreenderá o que lê)
b. Antecipação de conteúdos ou propriedades dos textos ( o leitor, neste
caso, busca referências em conhecimentos anteriormente reunidos; é o caso de
crianças muito pequenas que leem sem decifrar rótulos de produtos, p.ex.)
c. Localização de informações (essa capacidade foi uma das que as
crianças avaliadas pelos testes padronizados demonstram possuir).
d. Checagem de hipóteses (o leitor, enquanto lê, levanta e checa
hipóteses; por exemplo, ao ler uma manchete de jornal rapidamente, pode
entender que está escrito “os presos de peixes subiram”, o que não faz sentido
para ele. Retomando a leitura, verifica que sua hipótese estava errada e que a
manchete diz “os preços dos peixes subiram”, o que faz sentido para quem lê).
3) Há competências que estão ligadas aos aspectos discursivos da língua
e são competências que definem o perfil do leitor critico. Esses aspectos estão
diretamente relacionados com a situação de comunicação onde o texto foi
produzido e respondem a questões como quem é o autor; que papel social ele
exercia no momento que escreveu; que pontos de vista assumiu ao escrever; que
veículo ou suporte contem o texto; como e onde esse veículo circulará; que
finalidade tem o texto, etc.
a. A leitura crítica
supõe um diálogo do leitor com aquilo que lê, valorando o que lê de acordo com
seus critérios próprios de valor. Um leitor crítico tem pontos de vista
pessoais e pode concordar com o autor que lê ou pode discordar dele,
desvalorizando suas propostas.
b. A situação em que o leitor se encontra influencia esse diálogo com o autor: ler para se divertir,
ler para obter uma informação, ler para estudar, ler para atualizar-se.
c. O leitor crítico é
capaz de estabelecer relações com outros textos, anteriormente lidos, seja
aqueles a que o texto procura responder, seja outros escritos posteriormente e
que procuram dar respostas ao texto lido.
Concluindo, afirmamos que um
trabalho bem conduzido com gêneros textuais possibilita essa múltipla abordagem
necessária para a formação da competência leitora nos alunos.
Nota
1.
Este texto foi
editado para fins formativos
Referências
2.
ROJO, R.H.R.
(2002) A concepção de leitor e produtor de textos nos PCNs: “Ler é melhor do
que estudar”. In M.T.A. Freitas & SR Costa (orgs.) Leitura e Escrita na
Formação de Professores, PP. 31-52. SP Musa/UFJF/INEP-COMPED.
3.
KLEIMAN, A.B.
(2006) Leitura e prática social no desenvolvimento de competências no ensino
médio. In C. Bunzen & M. Mendonça (orgs.) Português no Ensino Médio e
Formação do Professor, PP. 23-36. SP Parábola Editorial, 2006.
4.
Parâmetros
Curriculares Nacionais, in www.mec.gov.br/sef/estrut2/pcn/pdf/livro01.pdf
quarta-feira, 24 de abril de 2013
DICAS DE LEITURA - APORTES TEÓRICOS
Os livros A Leitura na Escola e Oficina de Leitura são referências sobre o tema LEITURA, pois abordam questões recorrentes no universo escolar: o que é leitura significativa, como promover a leitura em sala de aula, o que fazer para tornar o aluno um leitor proficiente.
Em A Leitura na Escola, as autoras, Lúcia Fulgêncio e Yara Liberato, evidenciam um trabalho com foco nos primeiros passos no aprendizado da leitura. Partindo de pressupostos teóricos solidamente alicerçados em suas pesquisas e em pesquisadores consagrados no campo da linguagem, como Mário Perini, Angela Kleiman, Frank Smith, Grice, entre outros, as autoras abordam o desenvolvimento do processo de aquisição da leitura. Dentre as causas que podem comprometer a legibilidade do texto, elas apontam: os comprimentos das sentenças, as inserções, a hierarquia de constituintes, as negativas duplas, a inversão da ordem canônica, as estruturas ativas versus as estruturas passivas. Além disso, as autoras apontam estratégias que favorecem a aprendizagem lexical, dentre elas a inferência lexical e a exemplificação.
Angela Kleiman, em Oficina de Leitura, esclarece que o propósito do livro é o de abordar a leitura enquanto atividade intelectual, focalizando-a como processo psicológico para o qual o leitor vale-se de várias estratégias calcadas em seu conhecimento linguístico, sociocultural e enciclopédico.
"Por que meu aluno não lê?" Buscando respostas para esse questionamento, a autora analisa conceitos de texto e de leitura que costumam permear a prática escolar. Kleiman apresenta vários exemplos de análises textuais que contemplam a concepção interativa de leitura. As atividades propostas visam levar o aluno à reflexão, a uma postura crítica, tirando-o da posição de passividade, de "receptáculo de informações".
No livro estão presentes proposições de teóricos como Mário Perini (gramática implícita) Koch e Travaglia (coesão e coerência) Goodeman e Smith (psicolinguística) e Eni Orlandi (análise dos discurso), que corroboram para que Kleiman construa suas próprias e relevantes proposições.
Um dos méritos dessa obra de Kleiman é tirar dos ombros do professor de português o pesado (e injusto!) fardo de ser o responsável pelo ensino da leitura. Na verdade, ele é um dos responsáveis por essa tarefa que é também dos professores das demais disciplinas pois "a palavra escrita é patrimônio da cultura letrada, e todo professor é, em princípio, representante dessa cultura."
Tanto A Leitura na Escola quanto Oficina de Leitura são importantes norteadores para sólidos projetos sobre leitura, apoiados no princípio de que aprendera ler significa aprender a ser sujeito ante a leitura, estabelecendo objetivos para ela, tornando-a uma atividade com sentido, por meio da qual o aluno, consciente de que existem estratégias das quais pode lançar mão, seja capaz de exercer controle sobre a própria aprendizagem (aprender a aprender).
(Resenha elaborada por Adriana Mello)
RELATO DE LEITURA
ADRIANA APARECIDA RIBEIRO LISBOA SANTOS
Não me lembro dos meus pais contando histórias para mim e meus irmãos. Lembro que meus pais liam jornal, pois eram assinantes do “Estado de São Paulo” e todos os dias entregavam em casa. Não suportava e não suporto ainda o cheiro dele, pois me causa uma crise de espirros, sou alérgica.
Na escola não tive professores com postura de leitores, que lessem para a sala ou formassem roda de leitura, para o tão sonhado desenvolvimento de estratégias de leitura e consequentemente formar leitores autônomos competentes.
Tornei-me leitora pela necessidade, como sou professora de Língua Portuguesa, hoje afastada junto ao Núcleo Pedagógico, pensava que se queria que meus alunos se tornassem leitores tinha que dar o exemplo.
Com a escrita lembro que eu estava na 8ª série e a professora solicitou a escrita de uma redação que valeria nota. Ela deu o início para que nós continuássemos, já vi esse início em uma proposta de produção de texto do SARESP, fiquei com o papel e o lápis na mão sem saber o que fazer. Pensei, pensei, pensei e nada, então vi que tinha que escrever algo, não podia entregar sem escrever nada. Comecei a inventar um monte de coisa, ao entregar pensei “me ferrei”, para minha surpresa tirei a nota máxima.
Hoje quando penso neste fato, percebo que antigamente os professores, pelo menos os que eu tive, não ensinavam a estrutura do texto, a atividade era escrever uma redação. O pior era quando pediam para escrever sempre sobre a mesma coisa “Minhas férias”.
Percebo o quanto é importante o professor ensinar todos estes procedimentos de leitura e escrita, não me canso de falar sobre isto nas orientações técnicas para os professores.
A menina que odiava livros: um curta metragem que nos faz refletir sobre a importância da leitura e como a família é importante no incentivo. Vale a pena passar esse vídeo para professores de todas as áreas. Afinal, ler é um compromisso de todos!
Veja o vídeo é demais!!!!
www.youtube.com/watch?v=geQl2cZxR7Q
Andrea Lanças
PCNP LEM
Diretoria de Santos
O Papel da Literatura Infantil
Ao
tratar da questão da leitura e do ensino de literatura, torna-se importante uma
discussão em torno da Literatura Infantil, uma vez que privilegiamos a formação
de crianças leitoras. O próprio estatuto da Literatura Infantil está vinculado
à noção de criança, tal como conhecemos hoje. A partir do século XVIII, com o
aparecimento de um
novo
modelo de sociedade, da configuração da família burguesa, surge a infância propriamente
dita, pois as crianças, até então, eram tratadas como ‘adultos em miniatura’ (ZILBERMAN,
1984).
Em
virtude de tais mudanças sociais e até mesmo culturais, as escolas passam a ganhar
espaço e, em decorrência da necessidade de se ocupar da infância, a instituição
torna-se a intermediária entre a criança e a cultura, servindo-se da leitura
para educar as crianças (ZILBERMAN, 1984, p. 12-13). A leitura e a formação de
um público leitor se expandiram nesta época, assim como a ascensão da
pedagogia. Nesse contexto, a literatura infantil aparece ligada à função
educativa, de fins pedagógicos, vinculando o seu surgimento à prática da
leitura.
Sabe-se
que os livros infantis, desde o seu surgimento, estiveram ligados à educação,
com fins moralizantes. Só mais tarde, como afirma Ana Maria Machado (1999, p.
33), é que adultos e crianças passaram a compartilhar histórias por amor e os
livros que foram escritos para adultos tornam-se infantis por adoção.
A
literatura infantil brasileira vem a florescer somente no final do século XIX, muito
tempo depois da literatura infantil européia (século XVIII). O país vivia um
tempo de modernização, deixava de ser Imperial para torna-se Republicano. Crescia
nesse contexto, a sistematização de um esforço para a formação de uma
literatura infantil brasileira. Era um ambiente favorável ao contato com os
livros, pois à medida que as cidades cresciam, o consumo pela cultura e a
preocupação com a escolarização aumentavam (LAJOLO; ZILBERMAN, 1991).
Com
a consequente valorização da escola, há uma profunda preocupação com a deficiência
do material destinado à leitura para crianças. Muitos intelectuais, professores
e jornalistas se unem e começam a produzir obras infantis — projeto de um
Brasil moderno. Estimulam o surgimento de livros infantis brasileiros, pois até
então, havia se multiplicado apenas as traduções e as adaptações de obras
estrangeiras. Além da adaptação dos modelos europeus, o Brasil também se apropriou
do projeto educativo e ideológico que via no texto infantil um forte aliado
para a formação dos cidadãos (LAJOLO; ZILBERMAN, 1991, p. 32).
Entre
1920-1945, a produção literária para crianças aumenta, não somente pelo número
de obras e o volume das edições, mas pelo interesse das editoras pela
literatura infantil. Na grande necessidade de escreverem histórias para
crianças, vemos a figura inovadora de Monteiro Lobato com sua obra A Menina
do Narizinho Arrebitado (1920), publicada em 1921 com o título Narizinho
Arrebitado e o subtítulo ‘segundo livro de leitura’ para uso das escolas
primárias. Em 1931, acrescida de outras histórias e, com o título de Reinações
de Narizinho, a obra torna-se um ícone da literatura infantil de Lobato e,
consequentemente, da literatura infantil brasileira — é o início de uma das
etapas mais férteis da ficção brasileira (LAJOLO; ZILBERMAN, 1991, p. 47).
A
indústria do livro para crianças é firmada nas décadas de 1960, quando uma grande
quantidade de livros é publicada e a profissionalização dos escritores é estabelecida.
É uma época de grandes conquistas, pelas quais obras mais maduras com consciência
política e libertária são produzidas, destacando figuras como: Lygia Bojunga Nunes,
Ziraldo, Cecília Meireles, Vinícius de Moraes, Clarice Lispector e outros.
A
narrativa infantil contemporânea aderiu à temática urbana e, muitas vezes,
fez-se de porta-voz das denúncias da crise social brasileira que se
estabelecia. Retratou temas até então não questionados e evitados pela
literatura infantil: a separação conjugal, o amadurecimento sexual de meninos e
meninas, o preconceito racial, a marginalização de crianças nas cidades, a
marginalização dos velhos. Os escritores apresentaram e continuam apresentando
um compromisso com a modernidade e um esforço renovador em tentar romper com as
amarras da pedagogia escolar (LAJOLO; ZILBERMAN, 1991).
Diante
da discussão em torno da literatura infantil, o que se coloca é que, da necessidade
de investimentos na educação infantil, o livro literário tornou-se livro de leitura
de uso escolar, houve a escolarização da leitura literária. De acordo com Vera Teixeira
de Aguiar (2001, p. 243), ‘o pecado original’ da literatura infantil foi ter
nascido ligada com a educação e sobre esse assunto surgem muitas propostas que
tentam redirecionar o estatuto literário do livro infantil.
Outra
questão que se coloca é sobre o papel da literatura infantil, seja a leitura ligada
à escola, ou então a leitura por curiosidade, por prazer, a literatura para
crianças apresenta a responsabilidade, assim como a literatura não-infantil, de
formar leitores.
Além de uma justa homenagem à importância do livro, trata-se de um exemplo bastante criativo de texto não-verbal.
Recomendamos também uma elucidativa explanação do Prof. Faraco sobre a obra de Bakthin:
http://www.youtube.com/watch?feature=player_detailpage&v=IJMByQS0oQc
http://www.youtube.com/watch?feature=player_detailpage&v=IJMByQS0oQc
O que a gente poderia dizer para alguém que duvida da importância da leitura?
Carlos Alberto Faraco responde:
... A gente adquire a visão ampla da condição humana, efetivamente, pela leitura."
Acesse o depoimento de Faraco sobre a sua trajetória de leitura:http://www.youtube.com/watch?list=PLNPsp-vcco-GWuYy0INZ4qp5t9LNbW6Py&v=cEPlUrjV4qU&feature=player_detailpage
Memórias sobre Leitura
Das minhas memórias
sobre leitura e escrita, lembro-me na 5ª série buscando os livros na biblioteca
da escola, antes disso apenas os livros que tinha em casa (possuía uma pequena
coleção de contos de fadas que ganhei de minha mãe, hoje estes livros já estão
com meus sobrinhos). Não consigo me recordar se um professor lia para nós, acho
que não, pois teria algo marcado na memória.
A partir desse
momento comecei a devorar livros e diários (sinto saudades). Costumava deitar
em uma rede embaixo de uma enorme árvore — um pé de manga... na cama escrevia
pequenas memórias no diário...
E sabem de uma coisa!
Eu me apaixonei por literatura infantil, não na infância e sim já na
universidade quando tive o prazer de ter verdadeiros Mestres de Literatura. A
paixão por Monteiro Lobato, Ana Maria Machado, Lygia Bojunga Nunes e outros
surgiram depois, quando pude reencontrá-los e deleitar com a leitura.
Ao longo desses anos
procurei ler um pouco de tudo, livros que me indicavam, livros do momento, clássicos
da literatura universal, nacional e infantil e até os não muito consagrados.
Como afirma Ana Maria Machado, é preciso ter uma dieta de leituras, até para
conversar com nossos alunos é preciso ter contato com vários tipos de
leituras e textos. Procurar conhecer sobre as experiências de nossos
alunos-leitores, as suas vivências é muito importante.
Nesse contexto, como
afirma Paulo Freire (1986, p. 11), “a leitura do mundo precede a leitura da
palavra”, ou seja, mesmo antes de lermos as palavras e de conhecermos os
códigos da escrita já realizamos a leitura — a leitura do mundo que nos cerca,
pois somos capazes de atribuir sentido (leitura) pela maneira que o ‘eu’
interage no mundo.
De acordo com Eliana
Yunes (1995, p. 185-186), o ato de ler implica em sensibilidade e prazer — “Ler
significa descortinar, mudar de horizontes, interagir com o real,
interpretá-lo, compreendê-lo e decidir sobre ele”. A leitura precisa ser
cultivada e trabalhada, assim como o prazer pelo ato de ler. Crianças, jovens e
adultos precisam descobrir e redescobrir o sentido de ler — ler para ter
conhecimento e para a vida. O ato de ler leva o leitor a buscar novos
horizontes, a conhecer o mundo dos outros, a questionar, a rever conceitos e,
num processo de amadurecimento, a transformação interna do próprio ser — ler
significa buscar o significado das coisas e da vida e refletir sobre elas. O
tema da leitura tem sido objeto de numerosas investigações e abordado sob
variados enfoques. Diante do contexto, a figura do leitor alcançou relevância no
ato da leitura e tornou-se parte integrante e “elemento ativo no processo de
comunicação literária” (AGUIAR, 1996, p. 23).
Uma outra experiência
maravilhosa pela qual tive o privilégio de poder compartilhar foi quando
realizei minha pesquisa de Mestrado. Trabalhei com crianças surdas em uma
Escola especializada para surdos em Maringá/PR (ANPACIN). Questões ligadas à
leitura, à formação de leitores, os mediadores, a importância da família no
aprendizado da criança surda e o contato da literatura, fizeram parte da
dissertação. As crianças da Educação Infantil eram alfabetizadas em LIBRAS
(Língua Brasileira de Sinais) para depois aprenderem a Língua Portuguesa (como
segunda língua). Os professores liam por meio da LIBRAS e contavam histórias,
era muito interessante. Existia um Projeto de Contar Histórias, pelo qual os
alunos do Ensino Médio iam até as salas das crianças do Ensino Infantil (uma
vez na semana) e realizavam rodas de leitura, uma sensação incrível vê-los
contando histórias e em LIBRAS. Realmente foi uma experiência que vou levar
para o resto da vida.
terça-feira, 23 de abril de 2013
César Coll faz o prefácio do livro de Isabel Solé e uma passagem bem interessante é quando ele diz que “...os bons leitores não são
os que compreendem mais e melhor os textos que leem, mas os que sentem prazer e
gosto pela leitura. Pois bem, da mesma forma que não é razoável esperar que
alunos e alunas aprendam as estratégias de compreensão leitora sozinhos, sem
que ninguém os ensine a utilizá-las, também não é razoável esperar que aprendam
a sentir prazer e gosto pela leitura sem certos modelos que lhes proporcionem
fundamentos adequados a respeito.” E é
com esse compromisso que Solé nos promove a utilização de estratégias
que permitam aos alunos interpretar e compreender de forma autônoma os textos
lidos.( Solé, Isabel. Estratégias de
Leitura. Artmed editora, 194 páginas).
domingo, 21 de abril de 2013
Sítio do Pica Pau Amarelo....pirlim pim pim! E olha eu como lia!!!!
Queridos colegas leitores e escritores!
Eu me recordo das experiências de aprender desde o pré-primário (educação infantil). Fui alfabetizada ao 5 anos, lia pequenos parágrafos, quando andava na rua, minha mãe me incentivava a ler as placas nos comércios. Quando já estava na 1ª série a minha professora Marina nos ensinava a ler em voz alta,mas com um importante detalhe, eu sentia o carinho com que ela transmitia a leitura para fazermos igual, e dedicação que ela tinha com aqueles que tinham muita dificuldade.
Ao chegar a 4ª série a professora Maria Aparecida já tinha outro jeito de ensinar leitura. Ela, primeiro nos ensinava a ler com as entonações e as pontuações necessárias e cobrava em chamada oral. Era nervosa e morríamos de medo dela. Ela dava música e nesses momentos a sala inteira relaxava, dava risada...momentos maravilhosos! E todas elas faziam questão de nos apresentar os autores das leituras que elas nos apresentavam. Ah! e depois de tudo isso tinha prêmio no fim do bimestre, para que fosse perfeito!
Confesso que adorava esses momentos, mas sempre fiquei em segundo ou terceiro lugar...enfim, e dentre os autores que conheci um foi extremamente marcante: Monteiro Lobato e todas as sua personagens que até hoje me causam emoção! Emília, Narizinho, Pedrinho, Visconde, Tia Anastácia, Dona Benta, Saci, a Cuca!, Gente! a Cuca foi malvada mais maravilhosa que já conheci e sem ela.... o que seria do Lobato! E assim cresci aprendendo...
Andrea Lanças
PCNP LEMDiretoria de Ensino de Santos
Construída pela leitura
Adriana Mello
Considero-me uma leitora voraz. Jornais, revistas, gibis, encartes publicitários, bulas de remédio: nada escapa a minha voracidade. Hábito precoce, lembro-me de minha mãe comprando revistinhas infantis, livros da coleção Vagalume, enciclopédia Conhecer para auxilar no estudos.
Sempre adorei ler em voz alta e, quando estudava, lia no quarto para as bonecas, levava o livro para o banheiro pois achava a acústica melhor. Eu era daquelas que lia o livro didático sem a professora mandar, só pelo prazer de ler, de descobrir os fragmentos de contos, de romances, de músicas, de poemas...
Enfim, livros sempre frequentaram meu universo, melhor dizendo, a leitura o construiu e, definitivamente, definiu o que sou. Consequência inevitável: escrever, e gostar de fazê-lo. Minha maior angústia era quando a professora delimitava o número de linhas a serem produzidas, pois eu, invariavelmente, tinha que diminuir a letra para não ultrapassar o limite. O processo da escrita é algo que me encanta, já que um texto nunca está acabado, encerrado, irretocável; sempre é passível de mudanças, reconfigurações que o aprimoram, tal como nós, seres inacabados em busca da utópica perfeição.
Em meu caminho, encontrei professores que contribuíram muito para que a leitura, mais do que um hábito saudável, se tornasse uma atividade (ou necessidade?) prazerosa. Muito prazerosa, e tão vital que sem ela, certamente, não seria quem sou, pois muito do que li habita em mim.
Não quero a limitação de definir gênero preferido ou autores prediletos, prefiro a liberdade de ler tudo e sempre - ainda que tenha me tornado naturalmente mais seletiva - sorvendo o que pode me alimentar ou me transcender.
Difícil conceber um professor que não goste de ler, uma vez que é na e pela leitura que se constrói conhecimento.
Nós, as blogueiras...
ADRIANA ANDRADE MELLO Cruzeiro-SP
Olá! Sou professora da SEESP desde 2000, efetiva nos cargos de Português e Inglês. Atualmente estou afastada do cargo de Português, designada como PC de Ensino Médio, e continuo lecionando Inglês. Sou mestre em Linguística Aplicada pela Universidade de Taubaté e Especialista em Leitura e Produção de Texto pela mesma universidade. Em 2012 conclui a especialização para professores de Inglês, oferecida pela Redefor (Unesp). Já fui cursista da Escola de Formação (EFAP) nos anos de 2010 e 2011 para os cargos de PEBII-Português e Inglês. Amo estudar, aprender e partilhar.
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ADRIANA APARECIDA RIBEIRO LISBOA SANTOS Iguape-SP
Sou Adriana, uma pessoa fácil de convivência. Moro em Iguape, cidade linda e maravilhosa. Uma coisa que gosto muito é a humildade e sinceridade das pessoas, gosto de ler, viajar, ouvir música. Em janeiro completei vinte e um anos de magistério, há sete exerço a função de Professora Coordenadora de Língua Portuguesa do Núcleo Pedagógico da Diretoria de Ensino Região de Miracatu. As minhas expectativas em relação ao curso é a de aprender mais, trocar experiência e contribuir com os colegas.
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ALESSANDRA JUNQUEIRA VIEIRA Pindamonhangaba-SP
Olá,
Ingressei na Rede Pública Estadual em 93. Desde o início de 2011, estou no Núcleo Pedagógico de Pindamonhangaba como PCNP de Língua Portuguesa. Adoro trabalhar leitura e produção de texto. Espero poder aprender com o conteúdo do próprio curso e com os colegas também. Um grande abraço a todos e um excelente curso!
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ANDREA RODRIGUES DE LIMA LANÇAS Bertioga-SP
Olá caros colegas de profissão e de curso! Tenho 42 anos, moro numa cidade peculiar no litoral, tenho uma família maravilhosa e adoro o que faço. E dar aulas realmente é para quem ama. Estudar, então, é meu verbo preferido e conjugo sempre no presente! Espero poder não só aprender bastante com todos, mas colaborar no que for preciso. E apesar de já ser efetiva em Língua Portuguesa, estou muito feliz por aprimorar minha outra habilidade que é o inglês. Estou como PCNP LEM na Diretoria de Ensino de Santos e aprendo muito com tudo e com todos. Acredito mesmo no que faço, na possibilidade de construirmos uma educação com qualidade, e assim quero compartilhar com todos. Que aconteça o melhor !
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Andréia Aléssio Apolinário Sumaré-SP
Andréia Aléssio Apolinário – PCNP de Língua Portuguesa
Graduada em Letras com Habilitação Plena em Português/Inglês pela Universidade Estadual de Maringá – PR (UEM). Mestre em Letras pela UEM, Estudos Literários e A Formação do Leitor. Projeto de Pesquisa financiado pela CAPES: O QUÊ OS SURDOS E A LITERATURA TÊM A DIZER? — Uma Reflexão sobre o Ensino na Escola ANPACIN do Município de Maringá-PR. Participação em dois projetos de Iniciação Científica e dois Projetos de Ensino, estágio na administração do Hospital Universitário (HUM – Hemocentro), monitoria de Língua Portuguesa na universidade, experiência como professor de Português e Inglês em um Projeto de Educação de Adultos (CES-CEBJA). Vários trabalhos e artigos publicados em anais de Congressos. Professora efetiva desde 2005 no Estado de São Paulo - PEB-II de Língua Portuguesa na E. E. Professora Leonilda Rossi Barriquelo – Sumaré-SP. Atualmente Professora Coordenadora do Núcleo Pedagógico de Língua Portuguesa – PCNP.
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