Situação de Aprendizagem
(Grupo I: Adriana Andrade Mello, Adriana Aparecida Ribeiro Lisboa Santos, Alessandra Junqueira Vieira, Andrea Rodrigues de Lima Lanças, Andréia Aléssio Apolinário)
Meu primeiro beijo – Antonio Barreto
Objetivos:
Criar situação de leitura para que o aluno reconheça o texto como uma narrativa e sinta-se estimulado a ler a obra toda como forma de fruição para a criação de hábito de leitura;
Mobilizar mecanismo de inferência para o preparo para produção textual;
Relacionar diferentes linguagens a partir de um mesmo tema.
Sondagem
Antes da leitura
1. Ativação do conhecimento prévio
Mostrar o livro - Balada do primeiro amor – e iniciar uma conversa para tratar de algumas questões sobre os elementos paratextuais: capa (imagem, título, autor, ilustrador, etc), orelha, quarta capa.
· Observe a imagem da capa do livro:
- O título do livro traz a palavra “balada”. O que você entende por esta palavra?
- A história é contada numa narrativa longa, chamada romance. Você já leu um romance? Qual? O que é um romance?

2. Recuperação do contexto de produção – Apresentar elementos que compõem o contexto de produção do texto:
- autor, lugar social que ocupa,
- esfera social em que o texto circula,
- veículo em que é divulgado,
- momento histórico em que foi produzido,
- intenções comunicativas do autor,
- leitores presumidos.
Assim, o professor pode conversar sobre o seguinte:
· O texto que vamos ler está no livro de autoria de Antonio Barreto. Alguém já ouviu falar desse autor ou já leu algo escrito por ele?
· A quem vocês pensam que um romance com esse título se dirige?
· Onde um livro como esse pode ser encontrado?
· Para que você acha que alguém escreve sobre esse assunto?
Caso não haja respostas da turma, o professor deve auxiliar nesse momento, ampliando o conhecimento de mundo dos alunos. Ao final, em anexo, há algumas informações que poderão contribuir nesse momento.
3. Antecipação ou predição
O texto que vamos ler foi extraído do livro Balada do primeiro amor. Trata-se de um capítulo intitulado Meu primeiro beijo.
· Quem aqui na sala poderia ser o personagem que já deu o primeiro beijo?
· Onde vocês imaginam que ele aconteceu? Com quem?
· Qual será o assunto tratado no romance?
· Quem são os possíveis personagens? Como eles são?
Para a realização dessa etapa que antecede a leitura, sugerimos que o professor organize uma roda de conversa.
“Abrindo parênteses, lembro que a roda de conversa é metodologia que pode ser utilizada nos processos de leitura e participação coletiva para a discussão de um tema, por meio de situações de aprendizagem em que o diálogo é priorizado, favorecendo ao aluno o desenvolvimento das habilidades de fala e de escuta. Para o êxito da atividade, o professor precisa atuar como mediador para conduzir a fala dos participantes por meio de roteiro de perguntas previamente elaboradas sobre o assunto a ser tratado. Conforme as respostas e comentários forem sendo oferecidos, o professor pode propor o registro coletivo para que as informações sejam retomadas para consulta futuras. Para melhor realizar esta etapa, sugiro ao professor que disponha as carteiras da sala de aula em círculo, de modo que todos os participantes da atividade possam se ver e ouvir uns aos outros.”
Durante a leitura
4. Checagem de hipóteses – Esse é o momento em que pode acontecer a leitura colaborativa, a partir da qual o professor pode fazer perguntas que auxiliem os alunos nas descobertas de “pistas”
Assim, ao realizar a leitura do primeiro parágrafo, pode perguntar, por exemplo:
· - Quem está contando sobre o seu primeiro beijo? Ele ou ela?
· - Esta pessoa está contando para quem?
· - Com quem vocês acham que foi o primeiro beijo?
Para a leitura colaborativa, sugerimos as seguintes intervenções:
Meu
Primeiro Beijo
Antonio
Barreto
É
difícil acreditar, mas meu primeiro beijo foi (Onde foi?) num ônibus, na volta da
escola. E sabem com quem?(com quem você acha que foi?) com o Cultura
Inútil! Pode? (quem
será o Cultura Inútil e por que o estranhamento?) Até que foi legal. Nem eu nem ele
sabíamos exatamente o que era "o beijo". Só de filme. Estávamos
virgens nesse assunto, e morrendo de medo. Mas aprendemos. E foi assim... ( assim como?)
Não
sei se numa aula de Biologia ou de Química, o Culta (Quem é Culta?) tinha me mandado um
dos seus milhares de bilhetinhos (o que estaria escrito nesse bilhete?):
"
Você é a glicose do meu metabolismo. (o que ele quis dizer com essa expressão?)
Te
amo muito!
Paracelso"
(Paracelso era o
Culta ou outro menino?)
E
assinou com uma letrinha miúda: Paracelso. Paracelso era outro apelido dele.
Assinou com letrinha tão minúscula que quase tive dó, tive pena, instinto
maternal, coisas de mulher... E também não sei por que: resolvi dar uma chance
pra ele, mesmo sem saber que tipo de lance ia rolar.
No
dia seguinte (O
que será que aconteceu?), depois do inglês, pediu pra me acompanhar
até em casa. No ônibus, veio com o seguinte papo (qual foi o assunto desse papo?):
-
Um beijo pode deixar a gente exausto, sabia? - Fiz cara de desentendida.
Mas
ele continuou:
-
Dependendo do beijo, a gente põe em ação (Põe em ação o quê?) 29 músculos, consome cerca de
12 calorias e acelera o coração de 70 para 150 batidas por minuto. - Aí ele
tomou coragem e pegou na minha mão. Mas continuou salivando seus perdigotos:
-
A gente também gasta (gasta o quê?), na saliva, nada menos que 9 mg de
água; 0,7 mg de albumina; 0,18 g de substâncias orgânica; 0,711 mg de matérias
graxas; 0,45 mg de sais e pelo menos 250 bactérias...
Aí
o bactéria falante (Por que ela usou esse termo para se referir ao menino?)
aproximou o rosto do meu e( o que aconteceu?), tremendo, tirou seus óculos,
tirou os meus, e ficamos nos olhando, de pertinho. O bastante para que eu
descobrisse (o
quê?) que, sem os óculos, seus olhos eram bonitos e expressivos,
azuis e brilhantes. E achei gostoso (o quê?) aquele calorzinho que envolvia o corpo da
gente. Ele beijou a pontinha do meu nariz, fechei os olhos e senti sua
respiração ofegante. Seus lábios tocaram os meus. Primeiro de leve, depois com
mais força, e então (aconteceu o quê?) nos abraçamos de bocas coladas,
por alguns segundos.
E
de repente o ônibus já havia chegado no ponto final e já tínhamos transposto,
juntos, o abismo do primeiro beijo.
Desci,
cheguei (Aonde?)
em casa, nos beijamos de novo no portão do prédio, e aí ficamos apaixonados (quanto tempo essa
paixão teria durado?) por várias semanas. Até que o mundo rolou, as
luas vieram e voltaram, o tempo se esqueceu do tempo, as contas de telefone
aumentaram, depois diminuíram...e foi ficando nisso. Normal. Que nem meu
primeiro beijo. Mas foi inesquecível!
5. Localização de informações – Aqui o professor pode solicitar que, durante a leitura, os alunos utilizem “procedimentos tais como sublinhar, copiar, iluminar informações relevantes para buscar passagens essenciais e abandonar informações periféricas”.
Desse modo, é possível que aos alunos localizem:
· as palavras e expressões que:
o marcam a progressão temporal nessa narrativa;
o pertencem à esfera científica;
o indicam a pessoa que conta a história.
· as falas da personagem.
Nessa etapa, sugerimos que os alunos recebem uma cópia do texto com as atividades a seguir.I) A protagonista da história lida é uma adolescente, Larissa, que no trecho lido conta um momento importante de sua vida.
a) Que momento é esse?
b) Onde e quando aconteceu?
c) Com quem ela viveu essa experiência?
d) O texto é escrito em primeira ou terceira pessoa?
Justifique com trechos do texto.
e) Qual o efeito causado por essa escolha do ponto de vista?
- Professor: na última pergunta, espera-se que o aluno perceba que, ao contar uma história em primeira pessoa, o autor consegue exprimir mais veracidade e mais emoção.
II) Destaque com os alunos os elementos da narrativa.
- Apresente para os alunos as seguintes teorias.
“A narração é um relato centrado num fato ou acontecimento; há personagens a atuar e um narrador que relata a ação. O tempo e o ambiente (ou cenário) são outros elementos importantes na estrutura da narração. O enredo, ou trama, ou intriga, é, podemos dizer, o esqueleto da narrativa, aquilo que dá sustentação à história, ou seja, é o desenrolar dos acontecimentos. Geralmente, o enredo está centrado num conflito, responsável pelo nível de tensão da narrativa; podemos ter um conflito entre o homem e o meio natural (como ocorre em alguns romances modernistas), entre o homem e o meio social, até chegarmos a narrativas que colocam o homem contra si próprio (como ocorre em romances introspectivos).”
Fonte: http://lportuguesa.malha.net/content/view/42/1/
- Relembre o texto lido (Meu Primeiro Beijo, de Antonio Barreto) e peça que os alunos, oralmente, indiquem o enredo do trecho, destacando o conflito apresentado.
- Apresente então outra parte da teoria.
“Os seres que atuam, isto é, que vivem o enredo, são as personagens. Em geral a personagem bem construída representa uma individualidade, apresentando, inclusive, traços psicológicos distintos. Há personagens que não representam individualidades, mas sim tipos humanos, identificados antes pela profissão, pelo comportamento, pela classe social, enfim, por algum traço distintivo comum a todos os indivíduos dessa categoria. E há também personagens cujos traços de personalidade ou padrões de comportamento são extremamente acentuados (às vezes tocando o ridículo); nesses casos, muito comuns em novelas de televisão, por exemplo, temos personagens caricaturais.”
“O ambiente é o espaço por onde circulam personagens e se desenrola o enredo.”
Fonte: http://lportuguesa.malha.net/content/view/42/1/
- Peça para que os alunos pontuem, oralmente, tais elementos apresentados no texto lido. Para isso faça perguntas como:
• Quais os personagens envolvidos no texto lido Meu Primeiro Beijo ?
• No texto, há personagens secundários?
• Pontue alguns traços psicológicos notados nos personagens.
• Em que espaço ocorrem os acontecimentos?
• O tempo da narrativa é apresentado de forma cronológica ou não? A trama cobre um período longo ou curto de tempo?
- Oriente sempre que os alunos justifiquem suas respostas. Quando for pertinente, solicite-lhes que destaquem trechos do texto que ilustrem as respostas dadas.
Um texto narrativo deve responder a algumas perguntas básicas:
1. O texto que você acabou de ler é do tipo narrativo. Assim sendo, destaque os elementos pontuados acima:
•O quê?
•Quem?
•Como?
•Onde?
•Quando?
•Por quê?
6. Produção de inferências – Considerando o contexto do texto, os alunos podem ser orientados a:
· deduzir o sentido de uma palavra/expressão desconhecida (bactéria falante, perdigotos, glicose do meu metabolismo),
· relacionar expressões sinônimas ou equivalentes (Cultura Inútil, Culta, Paracelso, bactéria falante: referem-se ao personagem a fim de nomeá-lo)
· compreender termos que retomam ou antecipam informações (E foi assim...)
Depois da leitura
7. Generalizações – A fim de desenvolver a capacidade de síntese, após a leitura, o professor poderá simular uma situação a partir da qual os alunos vão contar a história numa conversa com um grupo de colegas, na praça, a fim de falar sobre o primeiro beijo.
8. Comparação de informações – Após a leitura, o professor pode propor aos alunos que compararem, por exemplo, o bilhete do texto com as mensagens que eles utilizam no cotidiano (torpedo, e-mail, scrap, facebook) ou, ainda, com cartas e declarações de amor em outras narrativas literárias e até mesmo de seus familiares. Assim, será possível favorecer a percepção de relações de intertextualidade ou até mesmo de interdiscursividade.
9. Percepção das relações de intertextualidade/interdiscursividade – A fim de desenvolver essa capacidade, o professor pode criar condições para um diálogo com a classe a fim de ensinar o leitor a estabelecer relações entre o que está lendo e o que já conhece (livro, filme, música, HQ), sobre o mesmo tema da narrativa lida. Assim, o aluno tem condições de iniciar um diálogo com o texto, por meio de comentários e perguntas que o professor pode fazer, por exemplo, lembrando-lhe de conteúdos presentes em outros textos relacionados ao que está lendo.
Como sugestão, indicamos:
I) a exibição de um trecho do filme Meu primeiro amor, com acesso no link http://www.youtube.com/watch?v=A9MtEoSNzH4
II) Trabalho com a canção “Beija Eu”,
relacionando o tema da letra com o texto “Meu
primeiro beijo”.
Beija Eu - Marisa Monte
Seja eu! Seja eu! Deixa que eu seja eu E aceita O que seja seu Então deita e aceita eu... Molha eu! Seca eu! Deixa que eu seja o céu E receba O que seja seu Anoiteça e amanheça eu... Beija eu! Beija eu! Beija eu, me beija Deixa O que seja ser... Então beba e receba Meu corpo no seu Corpo eu, no meu corpo Deixa! Eu me deixo Anoiteça e amanheça... Seja eu! Seja eu! Deixa que eu seja eu E aceita O que seja seu Então deita e aceita eu... Molha eu! Seca eu! Deixa que eu seja o céu E receba O que seja seu Anoiteça e amanheça eu... Aaaaah! ah ah ah ah! ah! Ah! ah ah ah! Ah! ah ah ah! Ah ah ah!... Beija eu! Beija eu! Beija eu, me beija Deixa O que seja ser... Então beba e receba Meu corpo no seu Corpo eu, no meu corpo Deixa! Eu me deixo Anoiteça e amanheça... Aaaah! Aaaaah! Oh oh oh oh oh oh! Oh oh oh oh oh oh! Aaaah! Aaaaah Oh oh oh oh oh oh! Oh oh oh oh oh oh! Aaaah! Aaaaah Oh oh oh oh oh oh!... |
III) Exploração de imagens e produção de um clip com o tema “O beijo em diferentes contextos”.
Exemplos: O beijo em diferentes culturas O beijo em diferentes idades
Os beijos mais famosos da História
|
- Francesco Hayez – Séc XIX
Antes dessa imagem não se via com
frequência registros de beijos na arte ocidental
|
Fotografia
famosa de beijo no final da Segunda Guerra Mundial em Nova Iorque
|
A avaliação deve ser feita no cotidiano das aulas, com a correção dos exercícios, observação da participação da classe e da apropriação dos conteúdos pelos alunos.
É importante ressaltar que havendo produção escrita, ela deve sempre considerar a função social do gênero e sua efetiva circulação.
Anexos
Antonio
Barreto (Antonio de Pádua Barreto
Carvalho) nasceu em Passos (MG) em 13 de junho de 1954. Reside em Belo
Horizonte desde 1973. Morou também em algumas cidades do Oriente Médio, onde
trabalhou como projetista de Engenharia Civil, na construção de estradas,
pontes e ferrovias. Tem vários prêmios nacionais e internacionais de
literatura, para obras inéditas e publicadas, nos gêneros: poesia, conto,
romance e literatura infanto-juvenil. Participa também de várias antologias
nacionais e estrangeiras de poesia e contos. Foi redator do Suplemento Literário do Minas
Gerais, articulista e cronista do jornal Estado de Minas e da
revista “Morada” (BH). Colabora com textos críticos, poemas e artigos de
opinião para “El Clarín” (Buenos Aires), “Ror” (Barcelona); “Zidcht”
(Frankfurt), “Somam” (Bruxelas); ” : e outros periódicos.
Disponível em: <http://www.palavrarte.com/equipe/equipe_antbarreto.htm> Acesso em 23 de bril de 2013.
Disponível em: <http://www.palavrarte.com/equipe/equipe_antbarreto.htm> Acesso em 23 de bril de 2013.
Disponível
em: <http://armacaodepera.blogspot.com.br/2008_10_01_archive.html>
Acesso em: 28 de abril de 2013.
¹AULA DE BEIJOLOGIA
(por onde
o mundo começa)
Antonio
Barreto
Beijo
também é ciência. Precisa de aprendizado. Aliás, hoje em dia, o que é que não
necessita de aprendizado, diploma, especialização?
Antigamente é que havia um
negócio chamado instinto.
Instintivamente a gente – os neófitos apaixonados – saía por aí tentando
aprender, pelo instinto,
alguma coisa da vida e do mundo que nos cercava. A palavra sexo, por exemplo, era um
mistério insondável. Pai e mãe não tocavam no assunto. Destarte, restava
perguntar alguma coisa aos amigos mais experientes: “Como é que a gente se
aproxima de uma menina? Como é que a gente se declara a ela? Como é que a gente
pega na mão dela? E o beijo? Como? Quando? Onde?”
Quase ninguém sabia responder.
Aí, vinha o instinto. Era
o instinto que, de repente, telefonava ou mandava
um torpedo, um e-mail pro cérebro e pro coração da gente... E fosse o que Deus
quisesse. E como era boa a descoberta!
Hoje, como já disse, se aprende
isso na maior facilidade: inclusive como beijar pela primeira vez. Tanto que
dia desses, num corredor de escola – onde eu acabara de proferir uma chatíssima
palestra sobre “O Fim do Mundo”... ops! – ouvi esse papo entre duas amiguinhas.
Um verdadeiro Manual de Beijologia. E agora acho que, sinceramente, é
por aí que o mundo começa... Vejam:
- Nunca beije sem vontade, Lu.
Primeiro, você tem que estar muuiiiinto a fim, entendeu?
- Ãrrãaaa...
- Sem essa de querer saber quem
beija e quem é beijado. O que importa é a vontade, o clima, sacou? Depois do
beijo, quem vai lembrar?
- Ãrrãaaa...
- Se o carinha estiver muito
tímido, deixa a coisa rolar, sem forçar a barra, certo? Tentem os beijinhos no
rosto, na mão, na ponta do nariz, um roçar de lábios... Não precisa começar
logo com um “de língua”, tá?
- Hummm... sinistro.
- Não exagera no batom. A Rê já me
contou: todo carinha detesta sair maquiado de uma sessão de beijos.
- Ocá...
Aí ela pegou um espelhinho na
mochila, passou batom e perguntou:
- Assim tá bom?
- Tá ótimo. No ponto.
Beijou o espelho.
- Ai, meus sais! Deixa pra treinar com
o Renatinho, Lu!
- Tá bom. Que mais?
- Não fique “geladeira” não, viu?
O carinha tá a fim de beijar é você e não uma boneca de pano.
- Ocá.
- Não fale demais. Pode cortar o
clima, sacou?
- Saquei...
- Confira se o seu hálito tá
legal. Mas sem encucar...
- Maneiro. Deixa comigo.
- Feche os olhos. Do jeitinho que
a gente vê no cinema. O resto, minha filha, é ir flutuando na tempestade.
Depois você me conta...
- E se não der certo, Lau?
- Ora, ninguém nasce sabendo mesmo. E
o beijo é o nosso primeiro contato pra valer com os carinhas, né? Eles também
não nascem sabendo. Vai ver, o Renatinho é mestre.
- E se eu quebrar a cara?
- Fazer o quê, Lu? Crescer não é
fácil, minha filha. E a vida não tem certificado de garantia. Pior é ficar
longe das grandes emoções que ela oferece, não acha? Se você beijar a lona com
o Rena, levanta e parte pra outra, pro segundoround, sacou?
Sem querer, embevecido com a aula, eu
disse:
- Saquei...
As duas meninas me olharam de
alto a baixo, soltaram risinhos e foram embora corredor afora.
Com toda certeza, pensando: “Esse
coroa aí deve ser analfabeto em Beijologia...”
¹ Esse texto deu origem a um dos capítulos do romance Balada do primeiro amor (Editora FTD, São Paulo).
Referências ROJO, Roxane. Letramento e capacidades de leitura para a cidadania. São Paulo:
SEE: CENP, 2004.





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